terça-feira, 9 de outubro de 2018

Medo da Eternidade - Clarice Lispector

Medo da Eternidade



Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade.


Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.


Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:




- Como não acaba? - Parei um instante na rua, perplexa.




- Não acaba nunca, e pronto.




- Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.






- Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.




- E agora que é que eu faço? - Perguntei para não errar no ritual que certamente deveira haver.



- Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.




- Perder a eternidade? Nunca.




O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamos para a escola.



- Acabou-se o docinho. E agora?




- Agora mastigue para sempre.



Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da idéia de eternidade ou de infinito.




Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar.




Até que não suportei mais, e, atrevessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.




- Olha só o que me aconteceu! - Disse eu em fingidos espanto e tristeza. - Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!




- Já lhe disse - repetiu minha irmã - que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.




Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra na boca por acaso.




Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.


fonte: (Linspector, Clarise. As cem melhores crônicas  brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, p.223).
Agora vamos estender o nosso BOM DIA a Cuiabá, Mato Grosso, Brasil e ao Mundo que neste momento esta precisando muito de um BOM DIA. Professora Aurelina Haydee do Carmo

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Direito de ter direitos

Direito de ter direitos

É muito importante entender bem o que é cidadania. É uma palavra usada todos os dias e tem vários sentidos. Mas hoje significa, em essência, o direito de viver decentemente.

Cidadania é o direito de ter uma ideia e poder expressá-la. É poder votar em quem quiser sem constrangimento. É devolver um produto estragado e receber o dinheiro de volta. É o direito de ser negro sem ser discriminado, de praticar uma religião sem ser perseguido.

Há detalhes que parecem insignificantes, mas revelam estágios de cidadania. Respeitar o sinal vermelho no trânsito, não jogar papel na rua, não destruir telefones públicos. Por trás desse comportamento, está o respeito à coisa pública.

O direito de ter direitos é uma conquista da humanidade. Da mesma forma que a anestesia, as vacinas, o computador, a máquina de lavar, a pasta de dente, o transplante no coração.

Foi uma conquista dura. Muita gente lutou e morreu para que tivéssemos o direito de votar. E outros batalharam para você votar aos dezesseis anos. Lutou-se pela ideia de que todos os homens merecem a liberdade e de que todos são iguais diante da lei.

Pessoas deram a vida combatendo a concepção de que o rei tudo podia porque tinha poderes divinos e aos outros cabia obedecer.

No século XVIII, a rebeldia a essa situação detonou a Revolução Francesa, um marco na história da liberdade do homem.

No mesmo século surgiu um país fundado na ideia de liberdade individual: os Estados Unidos. Foi com esse projeto revolucionário que eles se tornaram independentes da Inglaterra.

Desde então, os direitos foram se alargando, se aprimorando, e a escravidão foi abolida. Alguém consegue hoje imaginar um país defendendo a importância dos escravos para a economia?

Mas esse argumento foi usado durante muito tempo no Brasil. Os donos de terra alegavam que, sem escravos, o país seria uma catástrofe. Eles se achavam no direito de bater e até matar os escravos que fugissem. Nessa época, o voto era um privilégio: só podia votar quem tivesse dinheiro. E para se candidatar a deputado, só com muita riqueza em terras.

No mundo, muitos trabalhadores ganharam direitos. Imagine que, no século passado, na Europa, crianças chegavam a trabalhar até quinze horas por dia. E não tinham férias.
(Gilberto Dimenstein. Cidadão de Papel. São Paulo: Ática, 1995)

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segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Hoje é O Dia Internacional das Pessoas Idosas

Hoje Dia Internacional das Pessoas Idosas
O Dia Internacional das Pessoas Idosas é observado em 1 de outubro de cada ano. Em 14 de dezembro de 1990, a Assembléia Geral das Nações Unidas votou pela criação do dia 1º de outubro como o Dia Internacional dos Idosos, conforme registrado na Resolução 45/106.

IBGE prevê aumento de 120% em 20 anos
Envelhecimento da população acontecerá em todas as unidades da federação, sendo que na região Sul e Sudeste, a diferença será acentuada

Nas próximas duas décadas, o número de pessoas com 60 anos ou mais irá crescer cerca de 120% em Mato Grosso. Em relação à população atual, serão 460 mil pessoas a mais, nesta faixa etária. 

Até 2030, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a fatia ocupada pela população idosa no Estado irá saltar dos atuais 8,2 % para 16% do total. 

Na outro extremo demográfico, o número de mato-grossenses com idades até 19 anos cairá 12% no mesmo período. Os jovens nessa faixa etária, que hoje representam 42% da população do Estado, serão 25,7% do total. 

"A evolução das componentes demográficas resultam em um significativo envelhecimento da população em todas as Unidades da Federação", afirmou o instituto, em nota à imprensa. 

A mudança será mais aguda em Estados da Região Sul, de acordo com o levantamento. No caso do Rio Grande do Sul, por exemplo, as projeções indicam que o número de idosos irá superar o de crianças por volta de 2027. 

"Acre, Amazonas, Roraima e Amapá ainda teriam [em 2030] cerca de 30 idosos para cada 100 crianças, valores semelhantes aos observados nas Regiões Sul e Sudeste em meados da década de 2000", disse. 

Em nível nacional, os dados divulgados pelo instituto apontam para um cenário de aumento da expectativa de vida, queda nas taxas de fecundidade e aumento da idade média em que a mulheres têm filhos. 

O número médio de filhos por mulher, que para este ano foi projetado em 1,77, deverá cair para 1,61 em 2020 e 1,50 em 2030. "Além da queda do nível de fecundidade, projeta-se que o padrão etário de fecundidade por idade da mulher também se altere, conforme já vem sendo observado na última década." 

Em Mato Grosso, os dados seguem a média nacional. A taxa de fecundidade, que era de 2,43 filhos por mulher no início do século, deverá cair para 1,55 ao longo dos próximos dezessete anos. E a expectativa de vida, considerando os dois sexos, passa dos atuais 73,4 anos para 77,1 anos. 

"A queda da fecundidade, acompanhada do aumento na expectativa de vida, vem provocando um envelhecimento acelerado da população brasileira, representado pela redução da proporção de crianças e jovens e por um aumento na proporção de idosos na população", declarou. 

Na nota, o IBGE comentou as consequências econômicas do envelhecimento da população, como a redução da parcela economicamente ativa. Em 2013, cada grupo de 100 indivíduos em idade ativa sustentava 46 dependentes. Em 2060, segundo a estimativa, o razão de dependência subirá para 66 para cada grupo de 100. 

"No caso, a principal parcela da população a ser sustentada, anteriormente composta majoritariamente por crianças, agora passa a ser de idosos. Em 2060, o percentual da população com 65 anos ou mais de idade será de 26,8%, enquanto em 2013 esse percentual era de 7,4%." 
Fonte: Diário de Cuiabá Edição nº 13688

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sexta-feira, 28 de setembro de 2018

BUSCANDO O EQUILÍBRIO FINANCEIRO

 BUSCANDO O EQUILÍBRIO FINANCEIRO

1. Buscando a suficiência. Em Provérbios 30.8,9, o sábio ensina o sentido de ter uma vida financeira suficiente, isto é, nem pobreza nem riqueza. Esse ponto de equilíbrio define bem o que é ter uma vida próspera na perspectiva bíblica. É ter a suficiência, como ensinou o apóstolo Paulo (Fp 4.19). Essa suficiência mantém nossa vida equilibrada. Ela não permite o muito tornar-se excesso nem o pouco virar escassez. Atentemos ao conselho do sábio!

2. Buscando o que é virtuoso. Para o sábio, há coisas que superam o valor do dinheiro: “Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento. Porque melhor é a sua mercadoria do que a mercadoria de prata, e a sua renda do que o ouro mais fino. Mais preciosa é do que os rubins; e tudo o que podes desejar não se pode comparar a ela” (Pv 3.13-15).

A sabedoria, como bem espiritual, em muito supera o dinheiro, pois para o sábio, a riqueza do verdadeiro saber não se compara com a mais bela e cobiçada joia. É incomparável o seu valor (Pv 8.11). Diz ainda Salomão: “Mais digno de ser escolhido é o bom nome do que as muitas riquezas; e a graça é melhor do que a riqueza e o ouro” (Pv 22.1).

PESQUISADO POR AURELINA IN LBD 4T 2013.

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terça-feira, 25 de setembro de 2018

O CUIDADO COM O LUCRO FÁCIL

O CUIDADO COM O LUCRO FÁCIL

1. Evitando a usura. A prática de emprestar dinheiro a juros é bem antiga. Para Milton C. Ficher, erudito em Antigo Testamento, a legislação de Deuteronômio 23.19,20 já proibia a prática de se “emprestar com usura” (“juros” na ARA). Mas não apenas dinheiro, também comida e “qualquer coisa que se empreste à usura”.

Os termos hebraicos neshek e nashak aludem a qualquer tipo de cobrança abusiva feita por ocasião do pagamento da dívida. O princípio de não cobrar juros aos seus irmãos devia ser observado pela nação israelita. Sobre isso e acerca de quem habitaria o tabernáculo do Altíssimo, Davi advertiu solenemente (Sl 15.5).

A legislação brasileira prevê que o crime de usura, ou agiotagem, ocorre quando os juros cobrados por particulares forem maiores que os praticados pelo Mercado Financeiro e permitido por lei. Portanto, agiotagem é crime! É pecado!

2. Evitando o suborno. De acordo com os léxicos, subornar é “dar dinheiro ou outros valores a, para conseguir coisa oposta à justiça, ao dever ou à moral”. Subornar é corromper para ganhar vantagens. A imprensa veicula constantemente exemplos de pessoas que receberam suborno quando deveriam zelar pelo cumprimento de suas obrigações.

A Palavra de Deus afirma que aquele que aceita suborno secretamente perverte o caminho da justiça (Pv 17.23). O cristão não pode aceitar suborno nem muito menos pagá-lo, pois ele anda na luz e precisa honrar a Deus em todas as áreas de sua vida. A prática do suborno é uma perigosa armadilha. O que se apresenta como lucro hoje, amanhã se revelará numa perda irreparável. Por isso, atentemos ao conselho de Provérbios (Pv 17.23 — ARA).

Pesquisado por Aurelina in LBD 4T 2013.

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sexta-feira, 21 de setembro de 2018

O CUIDADO COM AS FIANÇAS E EMPRÉSTIMOS

O CUIDADO COM AS FIANÇAS E EMPRÉSTIMOS

1. O Fiador. O Dicionário Aurélio define o fiador como “aquele que fia ou abona alguém, responsabilizando-se pelo cumprimento de obrigações do abonado; aquele que presta fiança”. O crente deve ter cuidado ao afiançar ou avalizar alguém, pois como diz o sábio, poderá sofrer “severamente aquele que fica por fiador do estranho” (Pv 11.15).

Tenha cuidado com o cartão de crédito e com o famoso “cheque emprestado”. Este último se não houver fundos para cobri-lo, na data da apresentação, você será cadastrado na lista de emitentes de cheques sem fundos. Siga a recomendação do sábio, evite esse tipo de problema e esteja “seguro” (Pv 11.15).

2. Empréstimo. O Dicionário Aurélio auxilia-nos também na definição do termo emprestar: “Confiar a alguém (certa soma de dinheiro, ou certa coisa), gratuitamente ou não, para que faça uso delas durante certo tempo, restituindo depois ao dono”. Sobre isso, o conselho encontrado em Provérbios é atualíssimo: “Não estejas entre os que dão as mãos e entre os que ficam por fiadores de dívidas. Se não tens com que pagar, por que tirariam a tua cama de debaixo de ti?” (Pv 22.26,27).

Não há nada de errado em emprestar, ou tomar emprestado, desde que se cumpra o compromisso firmado. Comprou? Pague! Tomou emprestado? Devolva! Quem compra e não paga, toma emprestado e não devolve, age desonestamente para com a pessoa que lhe deu crédito e desonra o nome do Senhor.

* SINOPSE: O cristão deve ter prudência ao decidir ser um fiador ou efetuar um empréstimo.

PESQUISADO POR AURELINA IN EBD 4T 2013.

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terça-feira, 18 de setembro de 2018

“O que é Trabalho?

O que é Trabalho?

‘Se ninguém me perguntasse, eu saberia; se quero explicar a quem me pergunta, não sei’. Era assim que Agostinho expressava sua dificuldade em definir ‘tempo’. O mesmo parece verdade com ‘trabalho’. Pensamos que sabemos o que é trabalho, mas, quando tentamos pôr em palavras o que pensamos que sabemos o que é trabalho, gaguejamos.

Começarei explicando o que é trabalho destacando algumas coisas. Primeiro, embora muito estrênuo, trabalho não é simplesmente labuta e fadiga, como alguns tendem a pensar, interpretando Gênesis 3 em parte incorretamente. Na verdade, muitos gozam do trabalho que fazem e os que fazem são os melhores trabalhadores. Não seria estranho dizer que os melhores trabalhadores não trabalham? 

Segundo, trabalho não é simplesmente emprego remunerado. Embora a maioria das pessoas nas sociedades industrializadas esteja empregada pela remuneração que percebem, muitos trabalham duro sem receber pagamento. Pegue, por exemplo, as donas de casa (raramente donos de casa) que gastam quase todas as horas em que estão acordadas mantendo uma casa em ordem e criando os filhos. 

Muitas delas com razão se ressentem quando as pessoas insinuam que não trabalham; isto é acrescentar um insulto (‘você não trabalha’) a uma injúria (elas não recebem pagamento).

Precisamos de uma definição abrangente de trabalho, uma que inclua o trabalho desfrutado e o trabalho sofrido, o trabalho remunerado e o trabalho voluntário. Uma definição muito simples de trabalho seria ‘uma atividade que serve para satisfazer as necessidades humanas’: Você prepara uma refeição para ter algo que comer; você digita manuscritos para receber um cheque. Em contraste, o propósito de jogar é jogar: Você joga futebol, porque gosta de jogar futebol; você lê um livro, porque gosta de ler livros. Claro que cozinhar pode ser seu passatempo, então você cozinha, porque você gosta de cozinhar, e encher estômagos vazios é, nesse caso, um benefício colateral. Semelhantemente, jogar futebol (se você é jogador profissional) ou ler livros (se você é aluno ou professor) pode ser seu trabalho; então você joga, porque precisa de dinheiro ou reconhecimento, e lê livros, porque precisa passar nos exames ou preparar uma conferência; a pura diversão de jogar ou ler é, então, uma coincidência feliz. Portanto, trabalhar é uma atividade instrumental: Não é feito para o seu próprio bem, mas para satisfazer necessidades humanas” (VOLF, M. Trabalho in PALMER, M. D. (Ed.) Panorama do Pensamento Cristão. 1 ed., RJ: CPAD, 2001, pp.225-26).
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