Em 13 de maio de 1888 era assinada pela Princesa Regente D. Isabel, a Lei Áurea - que abolia a escravidão no Brasil.
O historiador português Oliveira Martins,
descreve nestes têrmos tão triste espetáculo: " Amontoada no porão, quando
o navio jogava batido pelo temporal, a massa de corpos negros agitava-se como
um formigueiro de homens, para beber ávidamente um pouco desse ar
lúgubre que se escoava pela escotilha gradada de ferro. Havia, lá no seio do
navio balouçado pelo mar, ferozes lutas, gritos, uivos de cólera e desespero.
Os que a sorte favorecia, nesse ondear de
carne viva e negra, apertavam-se à luz e olhavam a estreita nesga do céu. Na
obscuridade do antro os infelizes, promiscuamente arrumados a monte, ou caíam
inânimes num torpor letal, ou mordiam, desesperados e cheios de fúrias.
Estrangulavam-se, esmagavam-se: a um saíam-lhe do ventre as entranhas, a outro
quebra-vam-se-lhes os membros nos
choques dessas obscuras batalhas. E a massa humana, cujo rumor selvagem saía
pela escotilha aberta, revolcia-se no seu antro afogada em lágrimas e em
imundície. Quando o navio chegava ao porto de destino, -
uma praia deserta e afastada o carregamento desembarcava;
e à luz clara do sol dos trópicos aparecia uma coluna de esqueletos cheios de
pústulas, com o ventre protuberante, as rótulas chagadas, a pele rasgada,
comidos de bichos, com o ar parvo e esgazeado dos idiotas. Muitos não se mantinham em pé; tropeçavam, caíam, e eram levados aos ombros como fardos.”
Grande parte da carga humana era vitimada,
dizimada pela saudade ( o banzo), os maus tratos, o ajuntamento, a imundície, a
falta de ar, as doenças. De quatrocentos escravos chegavam às vezes vivos, ao
seu destino, apenas trezentos.
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